Vai faltar CFO no mercado?

O mercado de capitais começou 2018 com a expectativa de que haja um boom nas operações de IPO’s no primeiro semestre deste ano e a pergunta que fica é: Vai faltar CFO no mercado?

A melhoria dos indicadores conjunturais da economia brasileira e a necessidade de concentração destas transações antes das eleições nos leva a um cenário que deve contribuir para aumentar a demanda por CFOs com habilidades para liderar, ao lado dos CEOs, todo o processo que transforma empresas fechadas em S/As.

Possivelmente, as empresas vão buscar candidatos com experiência prévia em processos de IPO. No entanto, conforme observa Bernardo Cavour, sócio da FLOW, não há um grande volume de CFOs com essa trajetória no currículo disponível no mercado ou disposto a sair da sua atual posição.

A solução será encontrar profissionais que apresentem atributos e atribuições compatíveis ao desafio. “Vale lembrar que todo CFO com vivência em IPO já teve sua primeira vez nessa jornada. A questão é avaliar não só as competências que o executivo precisa ter, mas o potencial dele para ser o protagonista de um dos movimentos mais importantes da história de uma companhia”, diz o headhunter.

O que avaliar no candidato a CFO

Baseado na metodologia FLOW de seleção de executivos, Luiz Gustavo Mariano, também sócio da consultoria, afirma que há caminhos que podem ajudar a chegar no candidato ideal, mesmo que este ainda não tenha liderado um processo de IPO.

“São fortes candidatos: profissionais que atuaram ao lado do CFO durante o IPO, com carreira em empresa S/A ou banco de investimento e também, profissionais com experiência em transações de dívida ou equity”, explica.

Mariano reforça a necessidade do executivo ter muita maturidade e energia para garantir alto desempenho na sua atuação e, consequentemente, em todo processo de abertura de capital.

“Considerando que o candidato será contratado para viver sua primeira experiência à frente do IPO, é fundamental que ele apresente alto grau de curiosidade e elevada capacidade de gestão”, afirma.

Atributos necessários

Além disso, conforme ressalta Cavour, outro atributo relevante no candidato é a habilidade para se comunicar com o público investidor durante a etapa de roadshow, situação que é inédita para a maior parte dos CFOs.

“É preciso ser eloquente para causar impacto e gerar credibilidade junto a investidores que sempre participam de apresentações de empresas que vão se lançar na bolsa de valores. O CFO deve ser perspicaz para não apresentar mais do mesmo”, indica o headhunter.

Leonardo Tavares Dib, hoje CFO da Bauducco, tinha 20 anos de experiência profissional, quando coordenou a primeira abertura de capital de uma empresa, a Netshoes, em 2017, na Bolsa de Nova York. Ele conta que uma das atitudes mais importantes para garantir o sucesso da operação foi o seu protagonismo na gestão de todos os agentes envolvidos.

“São muitos integrantes atuando. O executivo de finanças é quem toma decisões, delega, define os papéis de cada um. Por isso, tem que ter profundo conhecimento do processo”, explica.

Dib se prontificou a estudar operações bem-sucedidas de IPO no mercado. Buscou referências, leu prospectos, avaliou a essência e a abordagem das companhias junto aos investidores. “É preciso ser autodidata e ter atitude de dono”, ressalta.

Desafios dos CFOs que fizeram IPO

“O processo de IPO engloba todas as frentes da companhia, permeando todas as instâncias, e cabe ao CFO orquestrar todo este trabalho”, acrescenta Flavio Vargas, CFO da Camil.

Flavio liderou com os CEOs as aberturas de capital da Smiles e da própria Camil. Expor a empresa em bolsa de valores para que ela possa se capitalizar por meio da venda de ações exige uma adequação total de todas as áreas para corresponder aos critérios do mercado de capitais, em termos de padrões de governança corporativa.

Os fatores dessa equação

Só para citar alguns exemplos do que significa essa adequação, Vargas pontua o acompanhamento da operação do ponto de vista jurídico para estruturar a governança, o aperfeiçoamento dos controles internos, a criação da área de Relação com Investidores e a apresentação de resultados e diferenciais que sejam atrativos para os investidores. Simultaneamente, é preciso desenvolver uma relação de envolvimento com stakeholders, como os bancos, advogados e auditores, pois todos eles são fundamentais para ajudar a companhia a se preparar para a operação.

Estas mudanças podem demorar anos, dependendo do estágio em que a empresa se encontra em relação às exigências que terá de cumprir.  O CFO precisa acompanhar e coordenar todas estas transformações, conquistar o engajamento de todos os colaboradores no processo, e preparar a prestação ao mercado de toda a história da empresa, seus fundamentos, seu plano estratégico, vantagens competitivas, quais são os gargalos, em quais mercados opera, quem são seus executivos.

IPO: credencial na carreira do CFO

Por não ser uma experiência comum para os CFOs, o IPO acrescenta uma credencial importante na carreira do executivo, uma vez que ele demonstrou ter capacidade de trabalhar com um pacote de habilidades que incluem profundidade e entendimento da operação, visão estratégica e relacionamento com o mercado externo.

“É um trabalho instrutivo, construtivo e agregador para o profissional da área, ao expandir sua atuação e conhecimento para além da gestão interna da empresa”, afirma Dib.

O papel dos diretores financeiros é fundamental para que as operações sejam bem-sucedidas e a experiência de liderar o processo muda significativamente o status de carreira destes profissionais.

“Como CFO, passamos por inúmeros desafios tão importantes quanto o dos IPO´s, mas sem dúvida este trabalho marca uma espécie de ‘antes e depois’ em nossas carreiras”, conta Dib.

Aliás, a experiência da atuação depois da empresa listada em bolsa também conta muito no currículo do CFO.

“No dia seguinte ao da abertura de capital, o papel do executivo torna-se ainda mais importante, pois é aí que começa a trabalhar com a empresa já transformada, com uma responsabilidade que não acaba, afirma Vargas.

Dib, da Bauducco, recomenda que o executivo se prepare obtendo um conhecimento profundo da operação. É necessário adquirir domínio de fato não somente da área financeira, mas também dos demais pilares estratégicos do IPO. Deve-se, segundo ele, ter um envolvimento intenso com todas as etapas do processo e garantir a robustez de um conjunto de fatores fundamentais para a abertura e a pós-abertura, que inclui planejamento financeiro, controles de governança, padrões contábeis, fiscais – enfim, uma visão holística e consistente de toda a companhia.

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