O novo momento da sustentabilidade no Varejo

Por: Bruna Baggio, sócia da Flow Executive Finders 

Nos últimos anos, o setor do Varejo no Brasil mostrou toda a sua adaptabilidade para se moldar e crescer nos tempos desafiadores da pandemia, que podemos enquadrar entre os anos 2020 e 2022. Agora, os reflexos são sentidos em mudanças de comportamento profundas do consumidor que permeiam o setor. Mais uma vez, a capacidade de reinvenção será o fator chave para o sucesso de muitos negócios, que passam novamente por um momento de transformação. 

Para 2023, as pautas do varejo são custo de capital, segurança dos dados e a discussão sobre 3 P´s: pessoas, planeta e lucro (profit), temas amplamente abordados na NRF deste ano, considerada a maior feira do varejo mundial. Pode-se dizer que o varejo é poderoso norteador das tendências de mercado em geral, visto que o setor é o que mais emprega no setor privado. Ou seja, neste novo contexto a pauta ESG é vista como obrigatória, visto que os clientes estão mudando seus hábitos de consumo e exigindo das empresas uma preocupação socioambiental que pode, dependendo do nível de maturidade de cada organização, exigir uma série de modificações em suas rotinas e processos. 

O passo de adequação pode ser curto ou longo, mas deve ser feito uma vez que para permanecer relevante e competitivo no mercado, os varejistas devem colocar o consumidor e suas necessidades no centro das decisões (Customer Centricity). Não em prol de uma visão estritamente de Marketing ou reputação de marca, mas de forma legítima uma vez que o público consumirá das empresas que se adequarem às suas visões e necessidades.  

Como exemplo, a 4ª edição da publicação “Me, My life, My Wallet”, realizada pela KPMG com 30 mil consumidores ao redor do mundo, indicou que 64% acreditam que ao comprar algo querem entender o impacto ambiental desse produto ou serviço. Já 69% dos respondentes afirmaram que pagariam mais por produtos que estejam de acordo com os princípios da sustentabilidade. 

Esta necessidade traz também um desafio: a lucratividade das empresas. Os varejistas não podem simplesmente repassar os custos de sua adaptação para o cliente. Mas, por outro lado, o que fazer em um momento em que a economia global apresenta juros altos, restrições de acesso ao crédito e uma baixa no consumo em geral?

Para driblar os altos custos que envolvem a transformação do setor, muitos varejistas – não alimentares – estão optando por implementar ações que envolvam princípios da economia circular. Existe uma tendência no mercado que é a venda de mercadorias usadas ou então um modelo de “fidelidade” no qual o consumidor pode entregar seu bem usado e obter um desconto em um modelo novo, facilitando a logística reversa das empresas e, consequentemente, a possibilidade de reciclagem.

Outro tema central é a redução da emissão de carbono ao longo de toda a cadeia do varejo, tema muito explorado quando se trata de logística. Essa pegada de carbono pode ser compensada com a utilização de veículos elétricos, que são 90% menos poluentes que a frota a diesel, bicicletas e até mesmo drones – tecnologia que vem sendo amplamente testada. Por fim, consumidores também defendem a produção de bens mais duráveis, o que evite a recompra ao longo dos anos e gere menos externalidade do meio ambiente.

Existem diversas maneiras do varejo assumir práticas e valores ESG. As ações mais consistentes trazem uma visão e um retorno não apenas financeiro de longo prazo (desafio para o momento atual). Esse movimento está conectado com a agenda de se tornar mais sustentável – usar recursos e pessoas de forma consciente, reduzir desperdícios, olhar o ciclo de vida do produto e por fim, pensar e planejar seu reuso e reciclagem. 

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