Como os líderes podem engajar seus times em um momento prolongado de crise

A crise global enfrentada ao redor do mundo por conta da Covid-19 exigiu das empresas e instituições financeiras muita criatividade para manter as operações funcionais e o caixa em dia. Visto que, enquanto algumas organizações surfaram bem pela crise que migrou praticamente todo o comércio para o universo digital, outras sentiram o efeito devastador de não estarem preparadas para o uso da tecnologia em sua operação, ou sofreram com a falta de maturidade das ferramentas já existentes. 

Uma vez ultrapassada a crise sanitária, o cenário é agora de uma crise prolongada, que traz as consequências de medidas econômicas e fiscais tomadas no momento de emergência, cenário que tornava prioridade a continuidade das operações “custe o que custar” a fim de manter a cadeia produtiva operante e os consumidores abastecidos. Mas, a conta chegou. O cenário atual é de juros e inflação de alta, aumento do custo de produção e uma necessidade de se fazer mais com menos. 

De acordo com Michaela J. Kerrissey, professora assistente de administração na Harvard T.H. Escola Chan de Saúde Pública, e Amy C. Edmondson, professora de liderança e gerenciamento da Novartis na Harvard Business School, a crise sustentada – que não tem data definida de início e fim - pode fazer com que comportamentos de liderança que funcionaram em uma crise pontual já não sejam suficientes para o longo prazo.  Dentro deste cenário, as especialistas analisam pontos de atenção que devem ser observados pelos líderes que querem performar mesmo em meio às incertezas. 

Entender a diferença entre crise repentina e prolongada

O primeiro passo é entender as diferenças dos conceitos de crise e suas consequências. Uma crise repentina traz a necessidade clara para os líderes de limitar danos. Os riscos são óbvios e o prazo para a resolução de problemas limitado, o que propicia a tolerância ao risco, visto que não fazer nada será pior. Já uma crise sustentada apresenta um período contínuo de intensa dificuldade, problema ou incerteza, sendo o objetivo principal construir resiliência ao invés de evitar danos imediatos. O risco é contido e o prazo para resolução é longo. 

As reações humanas também diferem. Nas crises repentinas é despertado o medo e a preocupação nas pessoas com o futuro imediato, o que tende a despertar ações rápidas, proativas e imediatistas. Já a crise prolongada pode trazer reações opostas, como ações mais lentas, desmotivação e procrastinação. 

Momento atual 

Para se lidar com a crise prolongada é preciso, acima de tudo, se ter uma visão otimista e convincente para o futuro. Do contrário, liderar como se o cenário fosse sempre de emergência pode esgotar e frustrar os profissionais, ao priorizar o urgente em detrimento do importante. 

Com o objetivo de tornar o cenário mais atrativo, é interessante incentivar a experimentação em larga escala, a fim de tornar o ambiente empresarial mais desafiador e envolvente. Neste contexto, há uma ênfase maior em fazer uma pausa para aprender, explorar e experimentar, ao invés de simplesmente agir rápido e sem estratégia.  

Com isso, é necessária a criação de estruturas e processos para experimentação e aprimoramento que convidem funcionários de vários setores e cargos a trabalharem em conjunto por um objetivo comum, que possui prazo para começar e terminar. Este movimento traz de volta a sensação de previsibilidade e entrega, o que estimula o sentimento de comprometimento com o negócio como um todo. São pequenas vitórias que devem ser comemoradas. 

Conclui-se que nesta nova realidade, a capacidade de diferenciar uma crise repentina de uma prolongada é uma competência essencial dos líderes do futuro que deverão, com base na análise de cenário, traçar estratégias de engajamento e pertencimento dos colaboradores que se tornarão aliados no combate aos efeitos colaterais das incertezas. 

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